Um país sem pradrão | 5 – Cilindros

Agora, alguém pensou, decidiu, tomou decisão e mandou embargar o stand por causa de uma tal de cinta catraca. Ele só esqueceu de informar, como de costume, o Expositor.


Novidade

Sempre que chegamos no stand, acompanhando a montagem, pelo menos 4 pessoas querem falar com você. Nessa hora, usualmente seu telefone também toca e chegam algumas mensagens.

Lá estava eu nesta condição e desta vez fui abordado pelo que vou chamar de “menininho”. Eu devo ter pelo menos mais do que o dobro da idade dele e mais anos de pavilhões, do que ele tem de vida. Por isso, “menininho”.

– Senhor, Senhor! Vou embargar seu stand se você não falar comigo agora!

Eu, no meio de uma ligação, fiz sinal para ele esperar por favor …

– Senhor, se o Senhor não falar comigo, vou chamar o Bombeiro. Ameaçou!

Pedi um minuto para a pessoa no telefone comigo e retornaria a ligação mais tarde. Desliguei.

Agora vamos descobrir o que era o motivo do desespero e prepotência do “menininho”.

Você sabia disto? Nem eu!

Neste momento fomos informados que era obrigatório a amarração de cilindros e a identificação do conteúdo dos mesmos, caso contrário, o estande seria embargado. Como sempre, precisamos verificar a informação para tomada de providências, certo? Foi o que fiz:

– Aonde isto está escrito, pois, nem no Manual do Expositor e em nenhum outro documento contratual ou informes dos organizadores, diz isso que você esta dizendo, em nenhum momento?

– Se o Senhor, não o fizer, vou chamar o Bombeiro e embargar o estande.

– Pode chamar. Respondi.

Então, veio o Bombeiro, ou pelo menos com roupa de Bombeiro…

– Senhor, Senhor! O Senhor pode me acompanhar?

Lá fomos nós ao depósito aonde estavam os cilindros e o mesmo “papo” continuou, agora na voz do novo interlocutor.

Alguém sabia?

Repetindo minhas perguntas, descobri que alguém “importante” lá em cima, numa reunião num grande Hotel, usando milhares de Reais decidiu a novíssima regra e agora, os subcontratados estavam cumprindo.

Descobri também que existia um “documento” aonde a regra era descrita, MAS, nenhum expositor teve acesso, recebeu comunicado e para piorar, o Bombeiro não tinha autorização de me fornecer uma cópia.

Liguei para meu cliente – o Expositor – que desconhecia a obrigação, conversamos e sem qualquer alternativa, decidimos comprar a cinta e correr atrás do Certificado de Conteúdo dos cilindros, fornecido por um dos outros expositores do mesmo evento, o que não aconteceu e tão pouco foi verificado pela “equipe” mais tarde.

Brasil, um país sem igual!

Voltando ao estande com minha cinta de R$ 80,00 na mão, encontrei o “menininho” na esquina do estande e como não sabia colocar a cinta, convidei-o para fazê-lo e fomos até os cilindros.

Ele, também não sabia e travou a fita sem mesmo ela estar ao redor dos cilindros. Passados alguns minutos, sugeri que ele chamasse o Bombeiro, que no final, também não sabia utilizar a cinta. Foi chamado um terceiro e neste meio tempo, um amigo chamado Google, foi acionado e consegui entender, destravar e desenrolar a cinta mal colocada e quando o terceiro chegou, e eu já quase terminado de desenrolar a cinta para finalmente colocarmos nos cilindros, me pareceu que o terceiro também não sabia utilizar o equipamento.

Eu mesmo, fiz o trabalho, claro, era minha obrigação que estava expressa num documento que   jamais terei acesso.

Algumas questões veêm à sua cabeça?

  1. Quem criou tal regra?
  2. Quem validou tal regra?
  3. Porque não informaram ao expositor, o que seria mais um custo para participar do evento? Além do estress.
  4. Quem são essas pessoas sub contratadas, que qualificação elas tem e quanto ganham?

Vou parar por aqui. Mas tive compaixão do “menininho” que para mim, jamais havia pisado dentro de um pavilhão, não sabia o que estava acontecendo e que também não tinha respostas para minhas perguntas. É lastimável ainda vermos num dos maiores eventos deste país, num dos setores onde crise não tem afetado o consumo – na verdade, somos deficitários – e termos o que considero exploração de mão de obra, com pouca qualificação e pouco preparo para um dia a dia normal de uma montagem.

No final, rindo juntos, agradeceram por eu ter colocado a fita, que era um exemplo para a feira e que agora eles haviam cumprido a missão recebida.

Considero a colocação da cinta, realmente um item de segurança importante e já incorporei ao meu protocolo, quando tivermos cilindros.

Agradeço a todos cujos nomes desconheço, mas que foram decisivos para este post chegar até você e servir de informação pública além das centenas de procedimentos que um expositor deve cumprir obrigatoriamente, se vai participar de um evento.

Fica uma pergunta: Em outros eventos, será que esta exigência existe? Avise seu cliente e peça a ele acrescentar mais uma verbinha para isso.

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